segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Eu voltei!

Gente amiga, finalmente, estou de volta!! Para quem não sentiu falta ok! Para quem passou por aqui e se cansou de tanto tédio, prometo mil e uma postagens interessantes por esses dias. Como sabem, andei de férias e resolvi me desligar um pouco de tudo. Postei umas coisinhas no instagram e só. No mais, aproveitei o período para dar uma descansada, finalizar alguns projetos e analisar, bem de perto, assuntos importantes da minha obra que já está em estágio bem avançado!! Para começar com o péd direito, compartilho com vocês esse poema que li ontem à noite e adorei! 



Ontem à Tarde um Homem das Cidades  

Ontem à tarde um homem das cidades
Falava à porta da estalagem.
Falava comigo também.
Falava da justiça e da luta para haver justiça
E dos operários que sofrem,
E do trabalho constante, e dos que têm fome,
E dos ricos, que só têm costas para isso.
E, olhando para mim, viu-me lágrimas nos olhos
E sorriu com agrado, julgando que eu sentia
O ódio que ele sentia, e a compaixão
Que ele dizia que sentia.
 

Mas eu mal o estava ouvindo.
Que me importam a mim os homens
E o que sofrem ou supõem que sofrem?
Sejam como eu — não sofrerão.
 

Todo o mal do mundo vem de nos importarmos uns com os
outros,
Quer para fazer bem, quer para fazer mal.
A nossa alma e o céu e a terra bastam-nos.
Querer mais é perder isto, e ser infeliz.
 

Eu no que estava pensando
Quando o amigo de gente falava
(E isso me comoveu até às lágrimas),
Era em como o murmúrio longínquo dos chocalhos
A esse entardecer
Não parecia os sinos duma capela pequenina
A que fossem à missa as flores e os regatos
E as almas simples como a minha.  


Louvado seja Deus que não sou bom,
E tenho o egoísmo natural das flores
E dos rios que seguem o seu caminho
Preocupados sem o saber
Só com florir e ir correndo.
É essa a única missão no Mundo,
Essa — existir claramente,
E saber faze-lo sem pensar nisso.
E o homem calara-se, olhando o poente.
Mas que tem com o poente quem odeia e ama
?

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XXXII"
Heterónimo de Fernando Pessoa

Um comentário:

Anônimo disse...

Em Alberto Caieiro, a vida tinha um sentido prático, natural,que não admitia subjetividade ou questionamentos.
"Há metafísica bastante em não pensar em nada. O que penso eu do mundo? Sei lá o que penso do mundo! Se eu adoecesse pensaria nisso".
Ana