quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013


SENSÍVEL

Gente amiga, compartilho com vocês uma crônica do Bruno Agostini que achei muito legal! A bem da verdade, muitos de nós já passamos, ao menos uma vez por isso: contemplar, de longe, uma pessoa bela e imaginar o que se passa ali, naquela cabeça, naquela vida desconhecida. Quem nunca?? Eu, muitas vezes.

 

"UMA CARIOCA NO METRÔ
08/02/2013
Nunca imaginei que, um dia, poderia viajar de metrô admirando a paisagem. Mas, hoje, para meu espanto e alegria, fui da General Osório à Cinelândia, admirando um lindo cenário.
Orientado pelos governantes, deixei o carro na garagem, e vim para o Centro de metrô. Sentei-me na primeira fila, lendo as notícias no celular. Tirei os olhos da tela. Olhei para ela. Antes da partida do trem, com uma amiga, ele se recostou docemente na parede do vagão, exibindo sem querer toda a sua formosura. Sem saber, ela alegrou o meu dia.
Contive a vontade de olhar insistentemente, por respeito. Tentando ser o mais discreto possível, alternava a retina entre o telefone e a moça. Usei subterfúgios como o rabo de olho. Fechava as pálpebras, algumas vezes. E abria olhando para ela.
Nem alta nem baixa. Nem magra nem gorda. Nem loira nem morena. Mesmo no traje executivo, tinha a graça de uma gata. Uma elegância espontânea admirável. Calça escura, camisa cáqui sem charme algum. Mas os braços de fora, e a voz macia, no tom perfeito, harmônico, formam um conjunto bonito e equilibrado. Se ela fosse uma escola de samba, ganharia nota 10 em evolução. Falava de carnaval e do trabalho com a amiga.
As unhas, pintadas num rosa claro discreto e raro, e as mãos, eram de uma delicadeza bailarina. Ela falava com as mãos. Poesias corporais, o movimento macio dos braços. Beleza cinética.
Às vezes, mexia no cabelo. O gesto, esse sim, era propositalmente sedutor, mesmo que involuntário, quase. Tira dos ombros as mechas, passa para trás. Pende o pescoço para a frente.
A composição para na Cinelândia. Ela se despede da amiga, não de mim. Mas eu me despeço dela, apenas movendo os olhos, circunspecto. Adeus, eu disse calado.
Acho que nunca mais a verei. E, se acontecer, pode ser que não reconheça. Mas nunca uma viagem de metrô foi tão agradável, nem quando li nos vagões os contos de Borges, ou a poesia de Pessoa, ou os sonhos e devaneios de Dom Quixote, ou as crônicas de Rubem Braga. Jamais viajar de trem foi tão lindo. Porque o Rio é assim. As cariocas o enfeitam
."

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